O que mais marcou os brasileiros que visitaram Nova York no meio de janeiro foi o quão vazia a cidade estava, bem diferente do que costumávamos ver nos anos anteriores. As pessoas, trabalhando de casa, não ocupavam os restaurantes, as lojas e os espaços urbanos. A pandemia também alterou o visual da cidade – por todo canto encontrávamos barraquinhas, tendas, realizando os testes de Covid-19 patrocinados pelo governo. Os restaurantes, por benesse da prefeitura, construíram “puxadinhos” do lado de fora, na primeira faixa de trânsito perto da calçada, para abrigar os clientes em um ambiente mais arejado, supostamente menos contaminador. Tudo isso passava uma visão triste da cidade, não era “aquela” Nova York que estávamos acostumados.
Times Square muito vazia.
As barraquinhas para testes gratuitos do Covid-19.
Os “puxadinhos” dos restaurantes, dos mais simples aos mais elaborados.
A inflação, amplamente noticiada e comentada, chamou nossa atenção. De janeiro de 2021 a janeiro de 2022 a inflação acumulada nos EUA foi de 7,5%, a mais alta nos últimos 40 anos. A expectativa dos analistas é que haja um recuo em 2022, mas sentimos no bolso a subida dos preços e, com o dólar perto dos R$ 6,00, as comprinhas ficaram prejudicadas.
Inflação era notícia.
À despeito do Covid-19, o varejo norte-americano teve o seu melhor natal em 6 anos. As vendas do varejo em 2021 já haviam retomado aos níveis pré-pandemia. A taxa de desemprego está em 4%, muito próxima do início da pandemia, ocasião em que se encontrava em 3,5%. As medidas de contenção da crise funcionaram.
O crescimento espantoso das vendas do varejo e food service (US Census Bureau)
Em meio a essa situação, o varejo busca funcionários desesperadamente. A demanda ultrapassou a capacidade da cadeia de suprimentos e do mercado de trabalho de se acomodar. Busca-se pessoal da linha de frente, caixas, pessoas para trabalhar em centros de distribuição e caminhoneiros. Tal crescimento simplesmente superou a capacidade do mercado de trabalho de ter pessoas suficientes para acomodar os níveis mais altos de vendas no varejo. Em janeiro de 2022 havia 10,925 milhões de postos de trabalho em aberto nos EUA mas, devido ao auxílio governamental, incertezas quanto à Covid ou simplesmente recusa em voltar ao mercado de trabalho, as empresas estão experimentando grandes dificuldades em preencher essas vagas .
Varejo recrutando vigorosamente.
Chamou atenção também a falta de mercadorias nos pontos de venda prateleiras vazias, produtos repetidos para disfarçar o desabastecimento explicado pela falta de mão de obra e problemas logísticos por conta do Covid-19. Os norte-americanos tinham 490 mil vagas em aberto no setor de armazéns e depósitos em julho de 2021 e a American Trucking Association, já em 2019, estimava que se precisavam de 60 mil motoristas de caminhão no país. Esses números, somados ao aumento da demanda, explicam o gargalo no abastecimento (fonte: ABC News).
Prateleiras e displays desabastecidos.
Resumindo, foi triste de ver mas, por todos os lados, havia sinais de resiliência. O show não podia parar e a cidade resistia, pronta para retornar com tudo. Talvez um pouco diferente, mas isso é assunto para outra postagem.
